Tokenização: o que é, como funciona e quais os seus benefícios?

A tokenização pode tornar os investimentos mais acessíveis. Porém, o conceito ainda é desconhecido pela maioria das pessoas e depende de regulação no Brasil.

O que é a tokenização?

A tokenização é um processo que transforma um bem ou direito em uma representação digital. Chamada de token digital, ela é registrada e negociada na rede Blockchain, tecnologia que permite armazenar dados em blocos distribuídos em uma rede e os usa para validar qualquer alteração realizada.

“Isso significa que um elemento físico, a exemplo de uma obra de arte, quando digitalizada recebe um token atribuído a ele. Ou seja, essa obra é registrada com uma chave alfanumérica única. É essa relação entre o token e o bem que faz com que ele tenha a sua propriedade ou valor”, explica André Miceli, coordenador acadêmico da FGV.

Qual o diferencial do funcionamento de um token?

Para entender melhor como funciona um token, pense na seguinte situação: você anexa uma foto no e-mail ou no seu WhatsApp e manda para outra pessoa. O que você está fazendo é gerar uma cópia que irá sair do seu celular ou do seu computador e chegar no celular ou no computador de outra pessoa, certo?

Quando há tokenização e armazenamento em uma blockchain, se eu envio o bem para uma outra pessoa, ele sai do meu computador e vai para o computador de outra pessoa, exatamente como acontece no mundo físico. É como se tivesse entregado a alguém a obra de arte.

“Esse processo de tokenização faz com que os elementos digitais tenham essa mesma propriedade no processo de transferência. Ou seja, eles deixam de fazer parte do local de origem e passam a pertencer ao destino”, afirma Miceli.

Esses tokens podem representar quaisquer bens, direitos e também expectativas de direito. São imóveis, recebíveis de duplicatas, recebíveis judiciais, moedas, automóveis, commodities, títulos financeiros, entre outros.

“A tokenização também permite a divisão e o compartilhamento desses ativos em partes menores, geralmente permitindo a livre negociação, de modo instantâneo, sem fronteiras e com custos de transação irrisórios”, ressalta Gustavo Blasco, CEO e fundador do Grupo GCB.

Quais são as vantagens e desvantagens da tokenização?

O primeiro grande benefício a ser destacado é o potencial de democratização de investimentos. A tokenização pode aumentar a gama de investimentos, diminuir as distâncias de negociações e ser mais acessível, pois pode ser fracionada.

“Com a tokenização, por exemplo, se pode investir em peças de arte sem ter dinheiro para comprar a obra inteira. Pode-se investir numa fração de um quadro, que passa a fazer parte da carteira. Se esse quadro inteiro é valorizado eu recebo o valor da valorização proporcional à fração que tenho”, diz o coordenador da FGV.

Blasco também acredita que o processo pode facilitar o acesso a ativos mais complexos, que geralmente são restritos a investidores qualificados. “Ao transformar esses ativos em tokens digitais, é possível oferecer oportunidades de investimento para um público mais amplo”.

Vantagens: liquidez, eficiência e custo baixo

Outro benefício destacado pelos especialistas é uma maior liquidez, já que a rede blockchain reduz fronteiras, tornando global o acesso ao investimento. A tokenização também reduz o custo das transações, pois reduz intermediários.

“Como quem executa o processo e a gestão dos elementos blockchain pode inclusive ser um software aberto, fazer negócio através dessa tecnologia pode sair mais em conta. Além disso, o processo tem maior transparência, já que é possível rastrear as transações, de onde elas saíram e para onde elas foram”, destaca André Miceli.

Desvantagens: falta de regulação no Brasil

A falta de regulação para a tokenização e as negociações em blockchain no Brasil são as principais pedras no caminho do conceito.

“O grande desafio no Brasil e no mundo é como regular a tokenização de ativos, que não são valores mobiliários e até pouco tempo atrás eram bastante ilíquidos”, afirma Caio Morais, CMO do Grupo GCB.

Morais ressalta que é um cenário totalmente novo e que no Brasil o regulador tem procurado ouvir o mercado para criar uma regulamentação para esse tipo de investimento. Os principais objetivos são:

  • Proteger os investidores;
  • Criar marcos prudenciais que mitiguem riscos sistêmicos;
  • Não inibir a inovação;
  • Não impedir que novas e mais eficientes formas de se investir e, na outra ponta, de tomar crédito surjam e se consolidem;
  • Não atrasar a criação de um novo ecossistema de mercado financeiro mais robusto, seguro e transparente

Porque essa tecnologia muda o mercado?

O token é um ativo digital representativo de uma fração de um ativo real. Ao ser fracionado, os titulares dos tokens tornam-se donos de parte do ativo real, tendo direito ao recebimento dos lucros dele decorrente.

Esses ativos são transacionados através da blockchain, tecnologia de validação de dados, que dispensa intermediários e intervenções manuais. A blockchain foi criada com o propósito de realizar transações financeiras online e surgiu juntamente com as criptomoedas. Ela é o livro contábil desses ativos digitais da rede e permite a intermediação direta dos ativos. Ou seja, reduz o custo de quem tokeniza e de quem investe. Esse processo ainda permite a transparência dos acordos realizados, já que é possível consultá-los a qualquer momento, com exatidão e segurança.

Esse processo reduz os custos operacionais e os spreads dos intermediários, beneficiando os tomadores de recursos e os investidores, que podem se apropriar de parte dos ganhos colhidos pelos intermediários das operações tradicionais.

A tokenização, além de reduzir os custos, ainda permite uma negociação sem fronteiras, sem horários, de rápido processamento e 100% digital, acessando ainda um novo público investidor: mais dinâmico e mais adaptado à tecnologia.

A idade média dos investidores recuou bastante, fruto em especial das novas tecnologias de investimento. Quando falamos em tokens, essa faixa etária pode ser ainda mais baixa, principalmente porque o mercado de criptoativos enxerga grande potencial no público nativo digital.

Os jovens que investem em cripto hoje ditarão as tendências do mercado em poucos anos, exigindo a quebra das barreiras dos setores tradicionais. Por isso, é imprescindível acompanhar essas mudanças e se atualizar.

“Evidentemente a gente precisa de uma boa regulamentação porque é por meio dela que se cria confiança no mercado financeiro. A confiança é uma característica fundamental para que qualquer inovação aconteça”, conclui o coordenador da FGV.

No mercado, a perspectiva é de que seja elaborada uma regulamentação nos próximos anos, identificando os ritos necessários e aquelas operações que deverão ser submetidas previamente à Comissão de Valores Mobiliários. Com essa organização legislativa, os tokens terão ainda mais vantagens e uma camada de confiança ainda mais robusta.

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